Permalinks: https://revcom.us/a/674/a-deadly-pandemic-a-murderous-system-a-fascist-regime-en.html (inglês) e https://revcom.us/a/674/una-pandemia-mortifera-un-sistema-asesino-un-regimen-fascista-es.html (espanhol)
Carta de um leitor
Nota da redação do Revolution/Revolución: Estamos a escrever num momento em que as infeções e as mortes nos Estados Unidos devido à covid-19 disparam a ritmos vertiginosos. A infraestrutura de saúde pública está nos limites em vastas regiões do país e as pessoas estão a morrer por falta de acesso a cuidados médicos. Trump e o regime fascista dele persistem na abordagem anticientífica deles, amordaçam os cientistas governamentais de saúde pública, recusam quaisquer medidas de confinamento apesar das recomendações dos cientistas e abdicam totalmente de qualquer plano ou abordagem coordenados a nível nacional. Isto é criminosamente negligente, uma grosseira negligência e, pelo seu âmbito e natureza, ações que chocam as consciências. Só isto é razão suficiente para exigir: Trump e Pence FORA JÁ!
“Esta foi a minha quinta missão covid-19. Disseram-me que qualquer pessoa que entra naquele poço (o Centro Médico Universitário de El Paso, no Texas) sabe que só vai sair num saco mortuário. Vi muitas mortes neste último mês, [mais] do que vi em toda a minha carreira de 13 anos. Nunca passei por isto e não tenho palavras para descrever aquilo por que acabei de passar em El Paso, Texas.”, Lawanna Rivers, Enfermeira Itinerante1
Nos primeiros meses deste ano em Guayaquil, a maior cidade do Equador, os corpos foram deixados a decompor em casas, abandonados em hospitais, envoltos em plástico e cartão e deixados nas ruas. Um vídeo mostrava uma mulher a implorar ao governo que retirasse de casa dela o cadáver do marido. Ela esteve durante vários dias em quarentena dentro de casa com o cadáver, enquanto os funcionários governamentais lhe iam dizendo que o iriam lá retirar. Gabriela Orellana implorou, soluçando: “Se vir este vídeo, Sr. Presidente, por favor, onde estão eles? […] Disseram-me que vinham, e era mentira. Só estou a pedir que o ajude a morrer com dignidade. Por favor. Não o deixem aqui, caído no chão.”
As infeções e as mortes devido ao coronavírus estão a disparar na maior parte do globo. Em todo o mundo, já há mais de 54 milhões de casos conhecidos do vírus e 1,3 milhões de mortes. Os números reais provavelmente são significativamente maiores. Em outubro, um responsável da Organização Mundial de Saúde informou que “as nossas melhores estimativas atuais dizem-nos que cerca de 10% da população global pode ter sido infetada pelo vírus” e que “a vasta maioria do mundo continua em risco”.
Nos Estados Unidos, o jornal New York Times relatou a 14 de novembro que, em média, mais de mil pessoas estão a morrer devido ao vírus todos os dias nos Estados Unidos, um aumento de 50% só no último mês. A 12 de novembro, nos Estados Unidos foram reportados 153 mil novos casos, o maior número de qualquer outro dia desde que começou a investida viral. E todos os gráficos, de infeções e de mortes, estão a disparar para cima, com os hospitais e os equipamentos vitais para salvar vidas abaixo da capacidade de as salvar.
A selvagem desigualdade do imperialismo — Uma praga de doença e morte
Todas as sociedades enfrentam vírus e pandemias. Mas a maneira como uma sociedade os enfrenta é moldada pelo tipo de sistema social que tem. O sistema do capitalismo-imperialismo é um obstáculo para se enfrentar uma pandemia com a ciência e ao serviço dos interesses da humanidade.
Esta crise do coronavírus colocou em acentuado relevo a realidade de que o sistema capitalista não está simplesmente em desarmonia, mas sim em conflito fundamental e é um obstáculo direto à satisfação das necessidades das massas da humanidade. Mesmo que os capitalistas e os governos que representam os interesses deles tenham sido forçados a tomar algumas medidas de emergência que de alguma maneira vão contra as dinâmicas inerentes ao sistema deles (como a massiva intervenção do governo no funcionamento da economia), continuam a afirmar-se as maneiras como este sistema constitui um obstáculo a fazer frente a esta crise — o que inclui não só ações perversas como o açambarcamento de produtos médicos vitais e de outros produtos por parte de alguns, para fazerem subir os preços, mas também o facto de a criação de riqueza neste sistema funcionar com base na desapiedada exploração e empobrecimento das massas populares em todo o mundo, ainda que ao mesmo tempo que mesmo nos países mais “ricos” haja uma pobreza significativa e grande parte da população vivam salário-a-salário e estejam a apenas uma grave crise de distância do desastre; a contínua rivalidade entre os diferentes capitalistas (ou associações de capital) — com a sua propriedade privada dos meios de produção (as terras, as matérias-primas, a tecnologia, as fábricas e outras estruturas) e a sua acumulação privada e competitiva da riqueza — atua como entrave à necessária cooperação e à produção de coisas que possam ser urgentemente necessárias mas que não geram lucros privados — e toda a ideologia de promoção dos interesses de cada um à custa dos outros, o individualismo fomentado por este sistema e atualmente promovido até ao extremo nos Estados Unidos, vai contra e mina as tendências para a cooperação e, sim, para o sacrifício pelo bem maior. (A mortal ilusão da “normalidade” e a via revolucionária para seguir em frente, de Bob Avakian)
O capitalismo é um sistema cujo mandamento impulsionador é a expansão do lucro. Isto molda tudo na sociedade, e exprime-se a nível global. A implacável exploração levada a cabo pelo capitalismo-imperialismo e a sua profunda opressão de milhares de milhões de pessoas em todo o mundo criaram gigantescos fossos de desigualdade na riqueza, nas condições de vida, no acesso aos cuidados médicos e nos recursos para as mais básicas necessidades da vida, como os alimentos, uma habitação digna, água limpa e sistemas fiáveis de esgotos. Estes fossos foram ampliados e aprofundados com esta crise.
Isto afetou enormemente o impacto do vírus em diferentes populações. Por exemplo, Angela Kocherga, diretora de notícias da emissora radiofónica KTEP de El Paso, disse numa entrevista em relação a Ciudad Juárez, no norte do México, imediatamente do outro lado do Rio Grande em relação aos Estados Unidos: “Os hospitais de Juárez encheram-se na semana passada com pacientes covid-19. […] Basicamente disse-se às pessoas aí, cuidem de si mesmas, porque não temos espaço no hospital.” Como foi assinalado em “De aperto com grampos a aperto de morte: A dominação imperialista, a covid-19 e o abandono dos pobres do mundo”, em Juárez há mais de 300 maquiladoras — fábricas de exploração extrema, altamente rentáveis e de propriedade estrangeira que produzem equipamentos para automóveis, dispositivos médicos, produtos aeroespaciais, aparelhos eletrónicos e outros bens para exportação para os Estados Unidos. Os proprietários capitalistas delas não quiserem parar a produção e diminuir os lucros deles e, como noticiou a agência Associated Press, o recolher obrigatório devido à covid-19 “mostrou ser difícil de impor na vastíssima cidade onde estão instaladas centenas de fábricas que produzem […] 24 horas por dia.”
Os Estados Unidos foram fundados com base no genocídio e na escravatura, e desde então foram construídos sobre uma profundamente enraizada opressão dos negros e dos latino-americanos, uma opressão que tem expressão em todos os aspectos da sociedade norte-americana — incluindo, atualmente, no impacto do coronavírus. Entre os brancos há 23 casos de covid-19 por 10 mil habitantes, enquanto o número de negros atingidos é de 62 por 10 mil e, para os latino-americanos, é de 73 por 10 mil. Tanto os negros como os latino-americanos são cerca de duas vezes mais propensos a morrer devido ao vírus que os brancos.
Crimes de um regime fascista
Em termos muito imediatos, as perspetivas e os métodos, bem como as prioridades, dos fascistas, tal como estão concentrados no regime de Trump e Pence — com a nomeação do anticiência Pence para liderar os esforços do governo em torno da covid-19; com a negação inicial de Trump da dimensão e do perigo representado por este vírus e com as constantes mentiras dele em relação a isso; com o grosseiro chauvinismo norte-americano dele, pondo os Estados Unidos contra o resto do mundo; com a repetida tendência dele para negar temerariamente a ciência médica e ignorar as recomendações dos especialistas médicos quando elas são contrárias aos próprios interesses e objetivos dele, estreitamente concebidos e perigosamente míopes; e mais —, tudo isto amplifica e fortalece as barreiras que o “funcionamento normal” do sistema capitalista-imperialista interpõe no caminho de uma abordagem sistemática e coordenada para combater o coronavírus. (A mortal ilusão da “normalidade” e a via revolucionária para seguir em frente, de Bob Avakian)
O regime fascista de Trump e Pence tem aumentado e amplificado criminosamente todos estes horrores. Este regime nomeou Mike Pence, um fascista cristão que nega e se opõe à ciência, como responsável pela resposta ao vírus. Trump mentiu sobre o vírus desde o primeiro dia. Trump e o seu núcleo de fascistas continuam a minar, a ignorar e a se oporem aos cientistas e especialistas médicos. Uma expressão disto é que nunca desenvolveram um plano nacional para testagem do vírus. E opuseram-se a que houvesse medidas significativas de confinamento.
As máscaras faciais converteram-se numa linha divisória, com Trump a se gabar abertamente de não as usar, a escarnecer de todos os que o faziam, incluindo os próprios apoiantes fascistas dele como Laura Ingraham,2 tornando isso um padrão nos comícios dele com milhares de pessoas, nos eventos dele, entre os quais eventos “superpropagadores” em locais fechados como o do anúncio da nomeação da juíza Amy Coney Barrett. Durante a campanha, Trump usou a própria infeção dele, da qual recuperou com cuidados médicos extraordinários, como forma de minar a seriedade e a gravidade da doença. Encorajou a base social fascista dele a desafiar a obrigatoriedade das máscaras faciais, do que resultou episódios em que clientes ameaçaram funcionários de lojas. Encorajou e apoiou os arruaceiros dele a desafiarem os confinamentos, o que incluiu os vigilantes justiceiros armados que ocuparam o Capitólio do Estado do Michigan. Escarneceu do conhecimento científico, minando-o e contrapondo-o ao crescimento económico e ao bem-estar. No capitalismo-imperialismo, como salientámos, há uma contradição real entre a economia e os meios de subsistência das pessoas e as medidas de saúde pública necessárias para conter a pandemia.
A fronteira com o México foi fechada com a alegação totalmente falsa de que o estavam a fazer como “medida sanitária” — ao mesmo tempo que estavam a manter os imigrantes em prisões atoladas numa taxa de infeções virais 13 vezes maior que a da população em geral e que estavam a deportar tantos imigrantes com o vírus que os Serviços de Imigração e Fronteiras (ICE, Immigration and Customs Enforcement) se tornou no que o jornal New York Times chamou “um propagador nacional e mundial do vírus”. Ameaçaram reduzir o financiamento das escolas públicas que não reabrissem e disseram que iam canalizar esse dinheiro para escolas fundamentalistas cristãs.
Enquanto literalmente toda a humanidade enfrenta uma crise global, este regime e os apoiantes dele promovem um individualismo ignorante e virulento em nome da “liberdade pessoal”.
Eles têm-se recusado a cooperar com a nova administração do presidente eleito Biden, em particular em relação ao planeamento da distribuição de uma vacina contra o vírus — uma atuação que poderá causar a perda totalmente desnecessária de muitas mais vidas. Um “alto funcionário” do governo de Trump disse a um repórter da revista Vanity Fair: “O planeamento da distribuição da vacina demora tempo e a Operação Warp Speed [velocidade distorcida no tempo] construiu uma gigantesca base de dados que está a guiar as decisões deles sobre a melhor maneira de distribuir a vacina. É essencial que o campo de Biden tenha acesso a essa informação para que, quando estiver disponível uma vacina, ela possa chegar rapidamente ao público.”
A magnitude dos crimes do regime, tal como foram cometidos nos Estados Unidos, é indiciada num estudo feito por quatro médicos no Centro Nacional de Preparações para Desastres, da Universidade de Columbia. Eles concluíram que “a nossa estimativa é de que pelo menos 130 mil e talvez até 210 mil mortes poderiam ter sido evitadas com intervenções políticas mais antecipadas e uma mais robusta coordenação e liderança federal”.
Tudo isto — a beligerante oposição à ciência, a indiferença ao sofrimento humano, a mentalidade do “eu primeiro, a América primeiro e que se lixem todos os outros”, a cascata de mentiras — é um concentrado do fascismo do regime de Trump e Pence e dos crimes dele contra a humanidade. Este regime tem de ser EXPULSO JÁ!
FONTES
A pandemia do coronavírus da covid-19, Worldometers
“OMS: O número de casos de coronavírus pode ser muito mais elevado que o reportado”, Voice of America, 6 de outubro de 2020
“‘A cada dia que passa fica pior’: Os cadáveres das vítimas do coronavírus são deixados nas ruas da maior cidade do Equador”, Washington Post, 3 de abril de 2020
“O número de mortes no Equador durante o surto está entre os piores do mundo”, New York Times, 12 de maio de 2020 (inglês/castelhano)
“Trump e os Republicanos estão a tornar ainda pior o pesadelo da covid-19”, Washington Post, 13 de novembro de 2020
“O impacto desigual do coronavírus nos Estados Unidos entre os negros e os latino-americanos”, New York Times, 5 de julho de 2020 (inglês/castelhano)
Relatório de Morbilidade e Mortalidade, Centros para o Controlo de Doenças, EUA, 28 de agosto de 2020
“A covid-19 pôs uma lupa sobre as desigualdades na zona de Kansas City”, KMBC News, 8 de novembro de 2020
“Verificação dos factos: A taxa de mortalidade do coronavírus no Vale do Rio Grande é o dobro da média estadual?”, Austin American-Statesman, 16 de outubro de 2020
“‘Uma nódoa no nosso país’: Os esforços do ICE para parar a propagação da covid-19 não protegem do vírus os imigrantes presos”, USA Today, 11 de novembro de 2020
“‘Foi como uma bomba temporizada’: Como o ICE ajudou a propagar o coronavírus”, New York Times, 10 de julho de 2020 (inglês/castelhano)
“130 mil a 210 mil mortes por covid-19 evitáveis nos Estados Unidos — e a aumentar”, Centro Nacional de Preparação para Desastres, Universidade de Columbia, 21 de outubro de 2020
1 Num vídeo ao vivo de 7 de novembro de 2020 no Facebook. [regressar]
2 Ver “Trump no Michigan chama ‘politicamente correta’ a Laura Ingraham por esta usar máscara”, New York Times, 30 de outubro de 2020. [regressar]